Resenha: Democracia e governo representativo no Brasil

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Que democracia nós possuímos? O que realmente caracteriza nosso regime democrático? Ou, em outras palavras, qual é o elemento constitutivo do regime democrático sem o qual não podemos ousar falar em democracia no Brasil contemporâneo?

"Democracia e governo representativo no Brasil", de Rodrigo Mudrovitsch, enfrenta a questão lançando luz sobre o atual modelo democrático no Brasil.

Diferenciando a representatividade da democracia, e demonstrando que nem toda democracia é – per se – um modelo de representação, o autor encontra uma pedra de toque para o modelo democrático, caracterizando-o a partir da limpeza dos canais de participação e da refrega de opostos. O regime democrático não é aquele em que os representantes expressam o que o povo quer e quer diretamente, mas aquele em que qualquer dos entendimentos políticos tem a legitimidade e a possibilidade de ocupar o espaço do poder.

Diferentemente das autocracias ou das ditaduras, no regime democrático, os opostos coexistem e podem ocupar o poder sem eliminar os divergentes. Não é a representatividade que importa como característica que a define, mas a possibilidade de alternância.

Talvez o mais correto seja dizer que a idéia de liberdade e tolerância política está no DNA da democracia, não na representação total do povo por seus representantes eleitos e parlamentares. O Brasil será tão democrático quanto pudermos tolerar pensamentos políticos opostos e permitir que pensamentos divergentes ocupem o mesmo espaço de debate. A democracia brasileira não precisa de ninguém para tentar eliminar o outro. Quando a lei e os advogados, o povo e os titulares de mandatos legítimos operam para extinguir o oposto, a democracia acabará.

Isto é pela única razão que o representante do povo não é exatamente um reflexo dos interesses e entendimentos do eleitor, representados abstratamente. Este é um fato que é demonstrado pela sólida constatação de que – no Brasil – quem governa e sempre governou eram minorias, nunca a maioria. A regra da maioria é uma ficção; 1 topoi argumentativo e metafórico que serve para justificar decisões e acomodar movimentos. Especialmente se não houver governo direto, e ainda mais se quem representa os desalojados – esquerda ou direita – também faz parte da elite, seja ela política, econômica ou intelectual. Talvez o autor tenha admitido a hipótese de que o parlamento, como representante do povo, é apenas uma picada discursiva ou um fetiche acadêmico.

Em tempos de redes sociais e internet, fica clara a possibilidade de um governo ou um parlamento flertarem com a democracia direta, com a busca pela tecnologia dos eleitores. desejo primitivo. Resta saber se isso é desejável ou possível. Resta saber se isso é democrático ou totalitário. A maioria pode ser totalitária e não admitir opostos; a maioria pode estabelecer uma ditadura sobre a minoria.

Para o autor, essa não é a característica da democracia, mas sim a tolerância e a possibilidade de participação política.

Quando confrontados com a tese de que as escolhas democráticas não são frutos de verdadeiras escolhas ideológicas, mas construídas sobre propaganda, o trabalho do professor doutor revela uma mentira tantas vezes que se tornou verdadeira: que o parlamentar e o governante representam os interesses daqueles que os elegeram.

Quer seja tomada da propaganda eleitoral gratuita, admitida em razão da dispersão da propaganda nas redes sociais, o que importa é que a decisão da maioria por um candidato ou por uma idéia política é construída a partir do grau de informação que o eleitor possui sobre um candidato ou uma proposta.

Consequentemente, a representatividade é e sempre foi corrompida por fatores reais de divulgação de fatos e opiniões. Pelo contrário, comida e benefícios diretos; hoje, a cadeia e as redes do WhatsApp
direitos sociais. A ignorância sempre existiu – se não foi assim – como um catalisador para pensar em favor de um ou outro representante que não representa as vidas, os entendimentos e os interesses dos representados.

A deturpação do interesse existe e é um elemento do jogo democrático.

Mais do que nunca, vivemos uma "democracia de audiência" onde os eleitores presentes em um teatro argumentativo deliberam escolhendo representantes que professam o discurso desejado, mesmo que o resultado da sedução possa ser desastroso!

O grande mérito do texto do professor Rodrigo Mudrovitsch é abandonar conceitos sedimentados sobre as características de nosso modelo democrático, oferecendo entendimentos pragmáticos para entender quem somos e para onde estamos indo!

Vale a pena a leitura! Excelente tese de doutorado que agora aparece no livro! Para nossa boa sorte!

é juiz do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, professor da Universidade de Brasília (UnB), pós-doutor em Direito e membro da Academia Maranhense de Letras.

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